25.9.10

Diabo Filho da Puta

Cai a noite lenta
Muito devagar
E com ela a calma
Momento perfeito
De te ter nas mãos
Com tudo do melhor de mim

Porque teus lábios
Refletem minha busca
Teus olhos minha imensidão
Tua mente
Meu corte, meu remédio

Vazio de folha branca
Em programa de TV
Espero suas cores diluídas
No teu dia gris

Mascaro minha sorte
Em gozo contido
Carrego correntes na alma
Com chaves escondidas
Na transparência dos teus mistérios

Luto contra o diabo
Distorcendo o obvio
Criando verdades virais
Sou tolo, Sou lúdico
Sou fragilmente mortal

18.9.10

Viagem com o Sargento Pimenta

Ganhei uma máquina do tempo. Um toca discos em vinil.

Ontem fiz uma viagem ao início da década de 90. Início da juventude merece uma droga poderosa e lá fui eu procurar o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles.


Capa do LP Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (The Beatles, 1967) 
Uma limpeza na agulha empoeirada e um carinho no LP com a flanela e pronto.

Início do lado A - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, música que deu nome ao disco.

Começa a Viagem com ruídos do público e os primeiros riffs de guitarra elétrica.

Me deparei com um tempo sem Orkut, Twiter, MSN. Tempo em que os nativos não eram digitais e o máximo de tecnologia era ter um Pager Teletrim.

Música 3 - Lucy in the Sky with Diamonds, onde as iniciais LSD remetiam a droga utilizada por Lennon e Paul. O mundo não precisaria mais se drogar para viajar. A droga estava pronta nos seus acordes de Lucy e sem entorpecentes.

Lá estava eu no tempo onde os amigos estavam mais presentes, os abraços eram calorosos e não vinham acompanhados com emotions coloridos e irritantes.

Um tempo onde o Circo Voador era realmente um circo e na minha cabeça existia uma áurea mais leve, juvenil. Carregava uma vontade de inovar o mundo e as pessoas eram mais tácteis, vivas e sem códigos binários.

Final do lado A - Being for the Benefit of Mr. Kite!

Acordo com o som inconfundível da agulha nas fendas do vinil a espera de mais combustível. Pausa para por mais gelo no copo.

Início do Lado B - Within You Without You

Doses de Jonny Walker depois estava literalmente lá. Calça Levis 501 rasgada, vários brincos na orelha, uma barbicha ridícula, bota, camisa do Nirvana e nada na cabeça. E eis que vos digo: O que mais gostei de reviver foi não ter nada na cabeça além de projetos audaciosos, poemas em guardanapos e um foda-se fácil, imponente e arrogante que deslizava para o mundo garganta a fora com uma naturalidade inconseqüente de quem acreditava não precisar dele para viver.

Os amores eram misteriosos e volúveis, com a mesma intensidade. Como acordes de A Day in the Life e seus 160 instrumentos sobrepostos interrompidos por um dissonante despertador que me fez acordar em 2010.

Hora de guardar o vinil em pé para não empenar e ir dormir no anonimato como todos os outros que ficaram de fora da capa mais conhecida de todos os tempos da história do rock´n rool.

14.9.10

Abridor de Olhos

Dentro do carro
Tem vista pro sinal
Tem ladrão com arma na mão e
Criança em liquidação
Tudo a 1 real

Mas o carro é blindado
Pra você está tudo bem

Por fora da maca
Tem corredor lotado e
Dor que não cabe na lotação
Vernissage de desespero

Mas o plano de saúde tá pago
Então tá tudo bem

O índio está queimando e o
Crioulo ensangüentado no chão
Mortes no PlayStation de última geração
Mortos de fome da destruição

Mas o advogado faz baby sitter
As crianças vão ficar bem

Cheirada na zona sul
Compra Nike, AR15 e
Chupeta de crianças que
Morrem e matam
Ciranda de corpos

Mas a galera fica em êxtase
A festa foi legal, então tá tudo bem

Está tudo bem
Até feder no quintal
Com cobertura em massa na TV
Como se o caos não fosse diário
Diariamente.

12.9.10

Amor e Paixão

Amor e paixão,
Ambigüidade
Paralelos do mundo comum
Utopia do fogo em brasa
Luz eterna enquanto vida
Cortam minha alma e carne
Com o mesmo punhal.

Feliz do homem
Apaixonado pela mulher que ama
Infeliz, em sofrimento
Dos amores sem revés

O Homem é aquilo que ama,
Sofre, constrói, mas
Principalmente o que ama
Por se ele o amor
O motor da eternidade
E a paixão
Seu combustível mais visceral.

5.9.10

Um Dia Sem Fé

Andando
mesmo sem esperança
e com o movimento de sobreviver
Castigando e cortando navalhas

O corpo sempre responde
andando
para momentos de alegria contida
Quase sempre escassos
Quase sempre calados

Como se a máquina rastejante
não fosse feita para rir
Vida que não perdoa
Vida que segue
Vida que atropela

Sermões de ânimo
com dízimo nas mãos
transformam pastores
em comerciantes de fé
para as almas que temem parar

Andando sempre
o circo tem platéia cativa
balançando as jóias
O show não pode parar

Mas o fim me parece o início
do descanso
de quem conta moedas
para andar ainda mais atrás de outras

Andemos sem parar
nem mesmo para refletir
Sem desanimar

4.9.10

Batidas de um Só Tom

Quero mais, desse seu sorriso
Quero o gasto
com gosto de novo
Totalmente reciclável

Quero o mundo
dentro do teu olho
entre seus sentimentos mais profundos
e seus votos de amor eterno

Quero teu suor e gemido
entre o visceral perdido entregue
e o amor cego e sublime
Loucura, maior, melhor

Quero muito mais,
dessa certeza introspectiva
desse fogo incondicional
dessa sensação de único

Completo em dois

Desse mundo estranho
apenas as pedras
Desse nosso amor
o princípio em nós
dentro,
essência,
Batidas de um só tom.