31.5.10

Primeiro Choro

Para Duda Pinheiro

Quando penso que tudo se fez nada
Cadê teu olhar, minha segunda pele
Cadê minha derrota,
que só alegria não satisfaz
Cadê minha bicicleta
Cadê meus pais

Não consigo mais sentir dor
Mesmo que uma suave lágrima
escorrendo, solitária

Peco, como um sorriso frouxo
De perto os sonhos
dispersam, despencam
e deixo tudo virar um som

Cadê meu móbile
Cadê minha cara,
escondida nos pelos que teimam crescer
Cadê meu ciúme, seguro

Cadê você,
que foi dormir entre meus anjos

Perdi tudo quando te vi
primeiro choro
em primeiro colo, em solo
Atrás das tardes e de um sol
que cisma em morrer
marcando meu compasso
gastando nosso momento.

Idiota Equalizado

Eu sou Gisele Bündchen
fazendo stripper
na vila mimosa
cobrando 20 reais a hora

Carlos Drumond de Andrade
fazendo um gol de placa
pelo Real Madri
num lançamento de Zidane

Robert De Niro
fazendo avião
para sustentar seu vício
Comércio no Vidigal

George W. Bush
fazendo ponto na Gloria
de cinta-liga rosa
com amigas travestis

Cicciolina
no Congresso Nacional
pedindo a renúncia
de um presidente de esquerda

Profeta Gentileza
discursando na ONU
armas nucleares
fome mundial

Madre Teresa de Calcutá
na apoteose desvairada
como madrinha de bateria
da Estação 1ª de Mangueira

Mas, queria mesmo ser:
Os peitos da Cássia
O charme do Bono
O Homem Vitruviano do Leonardo
A língua dos Stones
A boca da Angelina
As letras do Nando
Ou não, de Caetano.

28.5.10

Elefante Debochado

Ontem passei em frente ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro e pra quem ainda não viu, ficou maravilhosa a restauração, pelo menos por fora. É digna de orgulho para nossa cidade. Pena não passar lá na frente com mais freqüência, mas, por outro lado, sou obrigado a passar todos os dias na frente de um enorme elefante branco chamado de Cidade da Música.

Sou um cara movido a música e daqueles que acham que a vida sem música seria um erro, mas me envergonho todos os dias por passar na frente de um projeto caça níquel, que está custando aos cofres públicos 670 milhões de reais. Sete vezes mais que o orçado.

Agora imagina você e sua mulher fazendo o orçamento do mês e estimam gastar no supermercado 500 reais. Apenas um dos dois vai ao supermercado e sai de lá com uma compra mensal de 3.500 reais. No mínimo é briga de uma semana, beirando o divorcio, certo?

Desses 670 milhões, quantos realmente foram para a obra da Barra da Tijuca e quantos foram parar em São Conrado, aos pés do imperador romano?

E tudo isso fica impune como se o corporativismo em que cada um pega um pedaço de pão e não mete a mão no pão do outro, protegesse os safados, que se escondem na ignorância do povão que não tem escola decente, hospital sem o mínimo de dignidade, segurança pública que parece um circo, onde a sensação de segurança é mínima e para completar sem os acordes de música da cidade porque o elefante está lá, imóvel, me desafiando a cada ida ao trabalho, me encarando cheio de arrogância, tripudiando da sua própria impunidade, debochando da minha inteligência e do meu senso de capacidade de gestão.

Fazendo outra analogia, seria mais ou menos como se a minha casa tivesse com o esgoto a céu aberto, goteiras no teto, infiltração na cozinha, mofo no quarto dos meus filhos, a geladeira vazia e eu resolvesse comprar um chafariz milionário feito por Gaudí, para colocar em cima de toda merda espalhada pelo jardim. Só que com um detalhe: Com o dinheiro do meu vizinho.

E nada acontece até que um Joãozinho qualquer resolva roubar um pão para alimentar os filhos em casa, porque está desempregado. Agora sim, escuto o som da indignação e vejo as luzes das sirenes, e esse safado vai ficar na cadeia por muitos anos. Quem mandou não ser político.

Enquanto isso, lá no apartamento de São Conrado, está tudo em ordem com o esgoto, com o telhado, com a cozinha, com o quarto das crianças e a geladeira está cheia. Só que um detalhe: Ainda estamos falando do dinheiro do vizinho.

Quanto ao Municipal, que vitrais maravilhosos. Estamos a espera dos espetáculos a preços populares. Será? E o Joãozinho? Esse, coitado, tá “fudido” para dar o exemplo.

Odeio política, mas o desabafo se faz necessário. Desculpe-me, mas foi mais forte que eu. Na melhor das hipóteses sem que tenha havido roubo do pão, Roma deveria ser ressarcida pela “incompetência” do imperador, mas isso é pura ficção num país que perdeu a vergonha no caminho de sua própria história.

Um dia, ainda paro no caminho do trabalho e dou uns tapas nesse elefante branco, sonso e debochado.

26.5.10

Meia Furada

Nunca soube fazer contas
Nunca soube medir o tempo
Telefones sempre gritam

Nunca soube viver em paz
Nunca soube voar
Nunca soube cantar
E nunca prensei um vinil

Escrevo apenas poemas baratos
Melancolia de dia cinza
Daqueles fáceis de chorar

Nunca soube ganhar dinheiro
Nunca soube sonhar
Nunca soube atirar
Mas grito como cão viciado

Nunca soube julgar o frágil
Momentos onde sou normal
Percebo a facilidade de morrer
Te vendo chorar
Num canto qualquer
Sem sol

Fragmento assimétrico de tristeza

24.5.10

Fórmula do Amor

Sabe aqueles casais que servem de referencia de vida, paixão e amor mesmo depois de anos de casamento e a rotina chata que o mundo não vê. Pois bem, em um mundo em que o amor se torna cada vez mais banal, esse amor, esse respeito eterno se torna cada vez mais utópico.

Até onde o amor consegue se renovar? Até onde os casais conseguem superar a rotina, as dificuldades que a vida nos propõe e seguir sentindo prazer em estar junto?

Existem momentos em que aquelas manias que te fez apaixonar viram as coisas mais irritantes do mundo.

Nos apaixonamos pelas partes, que podem ser um olhar profundo, o jeito de fazer xixi, a postura diante da vida, o sorriso preguiçoso ao acordar, um dom, um toque, um tom.

São essas imagens e sensações que nos fazem apaixonar, mas é a admiração e o poder de renovação que mantêm tudo vivo dentro do peito.

Os casais se separam por diversos motivos, que devem ser respeitados porque de perto tudo é muito maior. Onde está a fórmula de fazer o eterno dar certo? Então, como diria Vinícius de Moraes, que “seja eterno enquanto dure”.

Acordar todo dia, buscando o novo, e viver o hoje talvez sejam os caminhos a seguir para um amor utópico e que a chama nunca apague. Se apagar sopre a brasa, converse, inove, mas a cinza pode realmente ser o único caminho pro fim.

Se alguém já encontrou a fórmula do amor, contribua com o blog. Conversei hoje com o Leoni e ele ainda não encontrou.

Amor, ainda continuo apaixonado pelo teu jeito de fazer xixi.

22.5.10

Cine Odeon

Meu amor não para de dizer um breve adeus
Como a certeza do sol pela manhã
Tempo fazendo parte do show
Espelho dentro dos olhos
transmitindo via satélite
cenas de alegria completa

Esqueci de lembrar que já se foi
misturando realidade aos sonhos
tão presentes quanto minha
cinéfila imaginação

30 minutos a cada cigarro,
milhões de cigarros até a volta
Raiz de três.

Eternidade com direito ao mundo
Realidade exposta num Dalí
Iluminado como imagino o inferno
Suave como a voz de Cássia
Feliz como um banho de sol no hospício

Minha tela de cinema
Minha indicação a melhor ator
Não perca o brilho guardado no olhar
até meu filme passar em reprise no Odeon
em uma sessão à preço popular

21.5.10

Conversando é Muito Melhor

Costumo dizer que, pela lei dos homens, cada um de nós pode por direito ter no máximo três vícios. Os meus três vícios confessos são o cigarro, o Flamengo e o sexo.

Hoje quero falar sobre meu terceiro vício citado.

Sexo pra mim nunca foi um tabu. Com 10 anos lembro-me de minha mãe chegar em casa com um livro de umas 200 páginas da Marta Suplicy, explicando tudo sobre sexo. Lemos o livro todo juntos. Foram momentos deliciosos e que pretendo ter com meus filhos. Lembro que algumas das coisas já eram conhecidas, de conversas anteriores e da rua, mas me recordo daquele momento como um marco libertador.

Acho que depois de escutar minha mãe me perguntando se eu já me masturbava nada mais me fez ficar vermelho sobre o assunto, e o sexo passou a ser pra mim um momento totalmente livre, sem restrições, libertador.

Sempre gostei dos fragmentos, da exploração, do prazer mútuo e da busca pelas novidades.

Sempre tive claramente a divisão do sexo em três momentos: diversão, paixão e amor e sempre vivi a utopia de vivê-los num único momento. Quando isso acontecesse, com revés, seria o fim da minha vida de solteiro. Com uma mulher dessa a única coisa certa a fazer seria casar e fazer todo o dia durar para sempre.

O Destino me reservou a sorte de viver isso. Depois de 7 anos ainda conseguimos redescobrir o gosto do novo, renovar diariamente o romantismo, ser visceral e sublime. O caminho que encontramos para isso foi a comunicação. Conversando é muito melhor.

Se vai ser eterno não sabemos, mas com tanta gente batendo cabeça no mundo em busca de um grande amor, que dure enquanto for cuidado, pois desse vício eu nunca irei morrer.

Vamos falar mais sobre sexo, sem fronteiras e paradigmas. Debata com seu parceiro, com seus filhos, com seus pais.

Obrigado mãe por me ensinar a falar sobre esse vício delicioso, sem pudores, sem restrições.

18.5.10

"Cariocando"

Estava fazendo o caminho para o trabalho e, passando por São Conrado, vi uma rua perto da praia, cheias de folhas pelo chão. O clima era típico do outono carioca, com aquele sol que esquenta, mas ao mesmo tempo com aquela brisa gostosa e gelada.

O cheiro das árvores misturado com a brisa do mar.

Nesse clima faltava um som e me lembrei de “Outono no Rio” do Ed Mota que tinha no meu MP3. Procurar, apertar play e perfeito.

“ Há um lugar para ser feliz, além de abril em Paris. Outono no Rio” e isso me deu um orgulho enorme de morar no Rio e é muito mais que o Pão de Açúcar, Corcovado e Copacabana. O Rio é o cenário ideal para histórias de amor.

Costumava dizer em alguns momentos que morei fora do Rio: Aqui é bom, mas é uma merda e o Rio é uma merda, mas é bom. Já quase apanhei por isso, mas é outra história.

Pra quem nunca viu, recomendo o filme Bossa Nova (cineasta Bruno Barreto, 2000), que em minha opinião, possui uma das fotografias mais bonitas do Rio de Janeiro, além de ter uma história linda de amor cotidiano.

Ser carioca é isso, escrever pro seu blog, na praia vendo o pôr do sol. Antes que alguém fale alguma gracinha sobre a violência do meu lindo Rio de Janeiro, estou tendo cuidado com o notebook.

16.5.10

Do parto até a vitrine

Queridos Andantes, nasce o Blog Dentro de Todos os Amores.

Tudo não passa de uma vontade de expor ao mundo um pouco dessa minha introspecção e os “poemas” que tem se multiplicado em gavetas, caixas e Hd´s.

Nesse primeiro momento postei 3 poemas de fases distintas que espero que apreciem, comentem ou apenas odeiem.

Não há nenhuma pretensão inicial de me tornar um “blogueiro” famoso, ou ainda ter milhões de seguidores, mas apenas ter a sensação que as gavetas tomaram asas e que o mundo poderá ter acesso a elas.

Salve a geração nativa digital...

My Best Brother

Coisas estão pelo ar

Naquela igreja distante
Encontrei meu anjo na terra
Depois de cavar buracos doentios

Agora consigo morrer tranqüilo

Meu sorriso tem sua cor
Tua volta fez sentido único
Nosso amor é eterno
Mesmo que não dure meu corpo

Agora que tenho tudo
Preciso de mais ar,
Da nossa mulher ao meu lado
E de um sorriso bobo

Minhas juras de amor
Teus olhos de verdade
Tua inocência sincera
Transportam-me a um mundo melhor

Meu silêncio que escutas
Lá do teu quarto
Fazem-me choro tolo
Que escondo de vergonha
De tudo aquilo que ainda não sou

E eu que nem tinha cor
E eu que refletia coisas banais
E via beleza no podre
Juntei o meu melhor
Mesmo que pouco e calado

Sou teu
Sou delas
Sou maior

Encontrei meu anjo na terra,
Meu amigo,
Meu filho.

Força Babilônia Supernova

Templários,
Einstein, Gandi, Oxalá

Leonardo da Vinci
Profeta Gentileza
Todos os papas, Alá

Guerreiros Medievais, das cruzadas
Samurais, Super Mouse
Nossa Senhora Aparecida
Mãe Menininha do Cantua

Hitler, Guevara, Capitão América
Gurus Tibetanos, Buda
Zico, Freud, Cartola
Arnaldo Antunes, Spectro Men

Mike Tyson, Os Beatles,
Os três patetas, São Judas Tadeu
Bispo Macedo, Walter Mercado
Iluminates, Backardigans, Mãe Diná

Sonho não tem paz
Paranóico
O belo do medo tem amor

Sufoco no torto morto
Iluminando os guetos
Marcianos em discos astrais
Invadindo com o cú na mão

Morteiros no céu gris
Exorcismo numa igreja
Criança de automática
Tudo por baseados
apertados e lambidos
nas notas de cem

No check-in
Tudo em paz
Tem vapor com faro
de cachorro viciado

No baile só da ela
Rebolando, alucinada
linda, leve, show
Bailarina Samba Funk Rock

No Cardápio:
Preta, amarela, oriental
Branco, preto, futebol
Vodca Absoluta

Parece caótico
mas tudo sempre fica normal
Corpo fechado
Força babilônia supernova

15.5.10

As Melhores Coisas do Mundo

As melhores coisas do mundo
estão dentro do nosso quintal
coladas junto com a massinha no tapete
deitadas no nosso travesseiro
se enxugando com a nossa toalha

Estão no sorriso que desmonta
dentro da sopa rala de domingo
no joelho ralado e dodói
no beijo ardido e transparente

São pagas com afago e gargalhadas
são as registradas na mente
e cultivadas toda hora

Estão nas lágrimas de alegria
no colo diante da tempestade
no olhar sincero e vulnerável
no gozar cercado de amor
e sem culpa

As melhores coisas do mundo,
pertencem apenas a nós
e quanto ao mundo, meu amor?
O mundo que se foda.